O Primeiro Comando da Capital (PCC) é acusado de manter vínculos com o poder público em pelo menos 16 cidades do estado de São Paulo. As investigações do Ministério Público de São Paulo (MP-SP) revelam que esses vínculos envolvem desde fraudes em licitações até a nomeação de membros da facção para cargos em prefeituras. A operação mais recente, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), expôs a profundidade dessas conexões.
Operação Muditia
A operação Muditia, deflagrada pelo Gaeco, ocorreu em 12 cidades paulistas: Guarulhos, São Paulo, Ferraz de Vasconcelos, Cubatão, Arujá, Santa Isabel, Poá, Jaguariúna, Guarujá, Sorocaba, Buri e Itatiba. Durante a operação, foram presos os vereadores Flávio Batista de Souza (Ferraz de Vasconcelos), Luiz Carlos Alves Dias (Santa Isabel) e Ricardo Queixão (Cubatão). Além dessas cidades, há investigações em andamento em Campinas, Cananéia e Iguape. Em Biritiba Mirim, um ex-prefeito foi condenado por nomear um integrante do PCC como secretário.
Fraudes em Licitações
As investigações do MP-SP apontam que empresas ligadas ao PCC participavam de licitações públicas simulando concorrência para garantir contratos de serviços como limpeza e fiscalização. Nos últimos cinco anos, esses contratos fraudulentos movimentaram cerca de R$ 200 milhões. A operação Muditia resultou na prisão de 13 pessoas e na apreensão de armas, munições, celulares, notebooks, cheques e dinheiro em espécie.
Detalhes da Operação
O promotor Yuri Fisberg detalhou as apreensões realizadas durante a operação, que incluíram quatro armas de fogo, 22 celulares, 22 notebooks, 600 mil em espécie e US$ 8,7 mil. As interceptações telefônicas foram cruciais para revelar a colaboração entre membros do PCC e funcionários públicos.
A Sofisticação do PCC
Frederico Silveira, outro promotor envolvido no caso, destacou a sofisticação do PCC no crime organizado. Ele enfatizou que o objetivo principal da operação é enfraquecer financeiramente a facção, dificultando suas atividades criminosas.
Envolvimento na Política
As eleições municipais são um alvo estratégico para o crime organizado, que busca se aproximar de vereadores, secretários e prefeitos. O PCC e o Comando Vermelho (CV) utilizam essas conexões para obter contratos públicos e lavar dinheiro do tráfico de drogas. Diferente das milícias, essas facções não buscam dominar o poder local, mas sim lucrar e legitimar suas atividades ilícitas.
Operação Fim da Linha
No dia 9 de abril, a Operação Fim da Linha mirou duas grandes empresas de ônibus de São Paulo, acusadas de serem financiadas pelo PCC. A operação resultou na prisão de três acionistas e um contador, além do bloqueio de R$ 684 milhões em bens. As empresas UPBus e Transwolff foram identificadas como parte de um cartel que controlava o transporte público em bairros da capital.
Caso de Campinas
Em Campinas, a apreensão do celular de Claudemir Antonio Bernardino da Silva, conhecido como Guinho, revelou seu envolvimento com o transporte público local. As mensagens mostraram que ele participava de reuniões com permissionários, recolhia dinheiro e pagava propina a fiscais. A prefeitura de Campinas afirmou que uma sindicância interna não encontrou irregularidades, mas continua colaborando com as investigações do MP.
Ex-Prefeito de Biritiba Mirim
O ex-prefeito de Biritiba Mirim, Jarbas Ezequiel de Aguiar, enfrenta uma cobrança judicial de R$ 830 mil por nomear Ronaldo Júlio de Oliveira, o Ronaldo Porco, como secretário de governo e tesoureiro. Oliveira já havia sido condenado por lavagem de dinheiro para o PCC antes de sua nomeação.
Esses casos ilustram a complexidade e a extensão da infiltração do PCC no poder público, evidenciando a necessidade de maior transparência e rigor nas administrações municipais para combater a corrupção e o crime organizado.